17/06/2010

A Beleza da Besta - capitulo 1

Capitulo 1 – O sonho

Castigo merecido. Em todos estes anos maltrataste professores, empregadas, colegas e até mesmo pobres criaturas. Toda a sua vida foste tratado de maneira especial devia à tua beleza, e toda a vida tens usado essa mesma beleza para ser cruel com os menos afortunados. Não voltas a fazer isso. Em alguns países quando um homem viola, ele é castrado, ou seja, na hora do juízo final é lhe tirado o instrumento usado para cometer o crime. O condeno a ser tão feio por fora como é por dentro.

Acordei sobressaltado. Mais uma noite e o mesmo sonho. Aquele sonho era um perseguidor. Perseguia-me como uma raposa atrás de um coelho, como um leão atrás de uma gazela. Eles perseguiam por sobrevivência. E, aquele sonho perseguia-me porquê?
Dizem que todos os sonhos têm um significado mas aquele não tinha. Não tinha nexo e diziam-me que os sonhos não tem necessariamente de ter nexo mas para mim tinha de fazer sentido e aquele não fazia.
Levantei-me e fui tomar um banho bem gelado para ver se me esquecia. Passado alguns minutos já estava na sala de jantar.

- Bom dia, meu pai.
-Schiu – ordenou. – Diga, não percebi o que me disse. – Proferiu educadamente para o telemóvel.

Fingi ser indiferente aquele acto, afinal todos os dias eram assim. Meu pai sempre fora assim.

O homem que matou e feriu seis crianças ontem nos arredores do Porto ainda está escondido nesta enfermaria com oito reféns, incluindo crianças. - Ouvia-se dizer através da televisão e isso prendeu a minha atenção. - A polícia revelou que se trata Joaquim Costa, de 42 anos, desempregado. Já se encontram a fazer todos os esforços para negociar com o criminoso mas a polícia ainda não pode adiantar-nos nada.

-Coma. – Ordenou. – Como vai o colégio? – Perguntou com falta de interesse na voz.
- Bem. – Respondi no mesmo tom.

O telemóvel voltou a tocar e ele saiu imediatamente da sala. Todos os dias eram assim, infelizmente. Meu pai sempre tentava ser, um verdadeiro, “pai” mas sempre sem conseguir.

-Ô como tenho saudades de minha Mãe. Minha grande e querida Mãe, de facto ela tinha essas qualidades. - Ela ao menos preocupava-se comigo e com o meu bem-estar, e seu trabalho não era tudo na vida. - Infelizmente a vida é ingrata!

Temia que o meu rosto se enchesse de lágrimas mas isso não aconteceu em vez disso tentei-me controlar, afinal os rapazes não choram.

- Meu filho tenho uma reunião urgente. – Ouvi-o dizer do hall de entrada. -Depois falamos. – E saiu.

A dor que sentia no meu peito aumentou. Sentia-me tão abandonado por ele. Sentia-me tão abandonado por minha mãe. Sentia-me totalmente sozinho no mundo. As lágrimas caíram abundantemente.

- Menino está bem? – Perguntou-me a nova empregada.
- Estou óptimo. – Respondi-lhe rudemente. – Porque não haveria de estar? Tenho tudo o que podia desejar, não se vê? – Só não tinha minha mãe.





Continua…